Quem nunca teve um cachorro chamado Rex ou um gato chamado Pingo? Quem nunca se afeiçoou a algum potrinho, um bezerro ou a um cabritinho?

          Animais domésticos e de criação  sempre fizeram parte de nossa vida e quando se foram ficaram em nossas lembranças. Na verdade nunca morreram para nós.

          Dos meus tempos de criança na minha cidade natal no Sul de Minas me lembro perfeitamente dos nossos  cachorros Bob e seu irmão Leão. Mestiços viralatas com policial eram companheiros inseparáveis de brincadeiras com meus irmãos e primos. Quando íamos para a roça os dois cachorros iam à frente e se viam um cavalo ou uma vaca pelo caminho, paravam e olhavam para nós como se estivessem pedindo permissão: "-Podemos latir para essa vaca ou para esse cavalo?".  Autorização concedida iniciavam uma forte latiçao que as vacas e os cavalos simplesmente ignoravam. Quando muito os espantavam com meneios de cabeça no pasto.
  
          Os cachorros e gatos de nossos tios e tias também protagonizavam histórias engraçadas.
Rubi, o cachorro do tio Benedito costumava procurá-lo na missa das dez na igreja matriz e quando o encontrava sentava à sua frente e ficava abanando o rabo e fazendo meu tio quase morrer de vergonha.  

           Presente, o cachorro branco da minha tia Ana, costumava ficar tomando conta do café com mistura que ela levava à roça para meu tio Antônio. Ela deixava o café embaixo de uma árvore até que chegasse a hora. Uma vez Presente não resistiu, abriu o embornal e comeu os 2 pedaços de bolo de fubá que lá estavam.  Quando viu meu tio chegando ficou todo sem graça, pôs o rabo entre as pernas, se deitou e ficou esperando a reprimenda,que não houve. Quando meu tio contou o fato à tia Ana ela queria bater no cachorro mas o tio Antonio não deixou.
   
          Bichico, gato preto do meu avô era um exímio caçador e nossa diversão era observá-lo quando ficava horas perto de um brejo à espreita de algum preá desavisado. Naquela época animais domésticos só comiam sobras (quando haviam) da comida dos humanos e quase sempre eles tinham que complementar o próprio sustento caçando. Quando ele conseguia pegar um deles, antes de devorá-lo, tomava-o na boca e ia "mostrá-lo" ao meu avô como se fosse um troféu. Aquilo para nós era uma festa. Chegávamos a contar quantos ele pegava por mês. 

          Como morávamos num lugar muito frio, os gatos adoravam se esquentar na taipa do fogão.
Às vezes nós também queríamos nos esquentar ali e era doloroso tirar os gatos do local. Meu pai e minha mãe então  simplesmente os espantavam dali.

          Um vizinho nosso tinha uma criação de cabritos e eu adorava ir até lá brincar com eles ou simplesmente observá-los. Havia um preto, que era meu favorito. Brincalhão, até me deixava  cavalgá-lo. Todo fim de semana pedia a meu pai: -Me leva para brincar com o cabritão do Dito Pato?

          De vez em quando também nos afeicoávamos a alguma galinha ou pato da criação. Púnhamos nome no bicho e ele passava a ser intocável. Mas quando ficàvamos alguns dias fora, na volta ele havia "sumido". No mínimo havia virado mistura para o restante da família

         Minha avó e minhas tias sempre escolhiam entre a galinhada uma delas que era a “galinha de São Sebastião”. Essa realmente era intocável até morrer. E sempre morria gorda pois só vivia comendo

         Entre os bichos que tentavam atacar nosso  galinheiro e que os cachorros espantavam, às vezes havia algum ouriço. O resultado era um monte de espinhos no focinho dos cachorros e que meu pai e meu avô tiravam com o alicate. Aquilo doía como se fosse em nós. 

         Já morando em São Paulo, também tivemos gatos e cachorros que ficaram na lembrança. Como esquecer da gata Tuzinha, mestiça angorá que morria de medo de trovões e ia se esconder no banheiro quando aconteciam? Ou da cadelinha Bolinha com quem minha mãe passava horas “conversando”?  Já a gata Suzy adorava se esconder nas gavetas dos arquivos do escritório e dava os maiores sustos em quem as ia abrir depois. Todos os dias antes de fechar a chamávamos para nos certificar de que não estava “guardada” numa das gavetas.

         Hoje, morando em apartamento não tenho nenhum animal doméstico. Até poderia ter, porque o regulamento do prédio não proíbe, mas acho que é muito triste deixá-los fechados o dia inteiro sem convivencia com outros da mesma espécie. Então, me divirto com os animais dos outros.

         Quando vou a Campinas, passo horas brincando com a gata Porcina , de minha sobrinha. Já em Curitiba gosto de brincar com os cachorros Chulé e Little do meu sobrinho.

         Bem, sei o que estão pensando: onde estão o Rex e o Pingo de que falei no início? Bem, Rex era a mãe dos cachorros Bob e Leão e Pingo é o gato da minha vizinha aqui no prédio e também o gato de minha cunhada de Bauru.