Seja bem-vindo/a

Obrigado por visitar meu blog. Comente, sugira, participe. Este é um espaço aberto

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Política à antiga





                        Campo Místico, localizada nas cristas da Serra da Mantiqueira, próxima a Socorro em S. Paulo e a Ouro Fino no sul de Minas abrigava descendentes de imigrantes espanhóis, portugueses e italianos que ali se estabeleceram  por volta de 1910.  Nessa época a cidade notabilizava-se  pelas lavouras de café e fumo e também pela produção de uva e vinho.
           
                        Na política,  a rivalidade entre udenistas e pessedistas renderia boas histórias.  Embora os udenistas sempre mantivessem o controle da política e da economia da cidade os pessedistas sempre se mostravam aguerridos e nunca dispensavam discussões com os adversários

                        Os udenistas eram representados na cidade pelo clã Vieira, na pessoa de Tuga como patriarca e no sucessor Renan, seu filho único.

                        Já os pessedistas tinham em Carlos Peres seu representante e mentor de todas as campanhas eleitorais , por sinal fracassadas.
                       
             Vez por outra pessedistas e udenistas se uniam contra algum adversário comum a nível estadual ou federal.

                        Ali no sul de Minas a política era quase que um símbolo de discórdia. Em todas as eleições sempre saía uma briga. Fosse entre adversários ou até mesmo entre correligionários que emitiam opiniões divergentes depois de algumas doses de pinga.  Quando  tudo terminava, às vezes até com alguma morte, ninguém sabia explicar como tudo começara.
           
                        Quase todos andavam armados e não levavam desaforos para casa. José Júlio era um desses. Fazendeiro e vereador pela UDN costumava andar sempre acompanhado de capangas que ao menor sinal de desavença com alguém entravam em ação.

                        Ficou célebre o desfecho de seu desentendimento com o adversário João Leitão. Os dois viviam se desentendendo através de recados sutis trocados através dos respectivos capangas. Mas um dia se encontraram na estação ferroviária de Ouro Fino e resolveram acertar as diferenças com as respectivas garruchas. Na verdade apenas os capangas é que ficaram sob fogo cerrado porque os dois políticos após darem  ordens para atirar foram correndo se esconder entre os vagões de onde atiravam às cegas.
           
                        – Atira, Nequinho. Vamos acabar com  esses desgraçados!
– rugia um.
                       
                        – Passa fogo sem dó, Zequinha! – retrucava o outro.

                        O saldo foi trágico: oito mortos. Três do lado de João Leitão e cinco capangas de José Júlio.


            O delegado local ainda teve ânimo para passar uma descompostura nos dois.

                        – Porque não vão fazer essa carnificina na sua cidade, seus bestas? Olha só o que fizeram......
           
                        – Foram os homens do João Leitão que começaram, seu delegado.

                        – Não, delegado, nós só revidamos porque....

                        – Chega! Seus idiotas! Sumam daqui e levem os corpos. Não quero sujeira na minha cidade – sentenciou o delegado.

                        Quando a notícia chegou a Campo Místico já estava desvirtuada. Uns diziam que foram vinte os mortos. Outros que João Leitão e José Júlio duelaram no pátio da estação. Com o tempo a história virou lenda e mesmo décadas depois a imagem da briga era lembrada .

                        – O trem da Mogiana saiu e oito ficaram  esperneando na estação.....
            

Nenhum comentário:

Postar um comentário