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domingo, 3 de junho de 2012

Expressões e falares do Sul das Gerais




“Os picharepes entraram na tapera do capiau, fizeram um guaiú e derrubaram picumã no angu”

Na cidade em que nasci no Sul de Minas a população local usava palavras e expressões que ficaram na minha lembrança e o significado e a origem de muitas delas só vim a entender depois de muitos anos.  Algumas, até hoje, não consegui descobrir a origem.

Às vezes as pessoas costumavam usar a expressão “amódi” ou “módi” no lugar de “por causa de” ou “para o fim de”. Pesquisando descobri que isso vem de “por mór de” . Vide Guimarães Rosa em A hora e a vez de Augusto Matraga: “Foi Deus quem mandou esse homem no jumento, por mór de salvar as famílias da gente!...”

Quando alguém era muito falador as pessoas diziam “Esse aí deve ter comido chan-chan”. Depois descobri que chan-chan é uma ave que com seu canto onomatopaico da voz humana avisa sobre a aproximação de alguém.

Quem queria mostrar sua esperteza numa discussão, saía-se com esta: “Quando você está indo com o milho eu já estou voltando com o fubá”. É que no local havia o costume de ir à fábrica de farinha “trocar fubá”, que consistia em levar uma quantia de milho e o dono dava o correspondente em fubá.
Se alguém não cumpria ou trato ou promessa era agraciado com: “Fulano comeu leite”

E quando alguém queria alguma coisa de quem não estava disposto a ceder, este respondia: “Aqui você não tira farinha, não!”

Ainda sobre farinha, quando alguem levava uma reprimenda e não reagia, diziam: “Fulano comeu com farinha seca”

Para pessoas que andavam vestidas com roupas rasgadas ou sujas dizia-se que estava “uma gafeira” ou “parece um marancuã” ou ainda que estava “uma injúria”.   Gafeira é a sarna do cão e talvez a analogia com alguem vestido com roupas rasgadas se dê pelo aspecto .

Sobre alguém que vivia cometendo insanidades, dizia-se que era um “jaguaraiva”. Esta palavra vem do tupi  e significa cachorro mau.

Se alguém tinha que sair de algum lugar para ir ao trabalho, dizia: “Preciso pegar no guatambu”.  Guatambu era um arbusto do qual se faziam cabos de enxadas, por isso, a referencia, significando que precisava ir para a roça.

Quando alguém chegava apressado a algum lugar, dizia-se que “veio arrebentando assa-peixe no peito”. Assa-peixe (cambará-guaçu) é um arbusto muito comum na região.

Se alguém deixava a cidade em busca de oportunidade e depois de algum tempo voltava, o pessoal comentava: “ O que será que ele foi cheirar em......?”. Nunca consegui entender a origem dessa expressão.

Para um veículo ou equipamento velho e necessitando de consertos dizia-se que estava “todo esgalepado”. Talvez seja um termo de origem italiana mas não consegui comprovar.

Outras expressões: “levar uma chasqueada” = levar uma reprimenda; “montar num porco” = perceber que disse algo inconveniente; “estar com uma gata nas costas” = estar com preguiça;

Também usavam-se palavras de origem tupi, africana, italiana, espanhola ou desconhecida, pelo menos para mim: jirau=armação; picharepe (ou pixarepe)=moleque; inguirim= espiga ou fruta ainda não desenvolvida; tiguera=planta, geralmente milho, que nasce depois de efetuada a colheita; guampudo=metido a esperto; virote=casa ou quarto desarrumado

Aqui expus apenas parte do rico vocabulário local, pois havia também as palavras e expressões que os descendentes de italianos, espanhóis e portugueses que moravam por ali assimilaram e adaptaram. Embora algumas pareçam estranhas, todas tem um fundamento lingüístico explicável, mas isso deixo para os especialistas.

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