“Os picharepes
entraram na tapera do capiau, fizeram um guaiú e derrubaram picumã no angu”
Na cidade em que nasci no Sul de Minas a população local usava palavras
e expressões que ficaram na minha lembrança e o significado e a origem de
muitas delas só vim a entender depois de muitos anos. Algumas, até hoje,
não consegui descobrir a origem.
Às vezes as pessoas costumavam usar a expressão “amódi” ou “módi” no
lugar de “por causa de” ou “para o fim de”. Pesquisando descobri que isso vem
de “por mór de” . Vide Guimarães Rosa em A hora e a vez de Augusto Matraga:
“Foi Deus quem mandou esse homem no jumento, por mór de salvar as famílias da
gente!...”
Quando alguém era muito falador as pessoas diziam “Esse aí deve ter
comido chan-chan”. Depois descobri que chan-chan é uma ave que com seu canto
onomatopaico da voz humana avisa sobre a aproximação de alguém.
Quem queria mostrar sua esperteza numa discussão, saía-se com esta:
“Quando você está indo com o milho eu já estou voltando com o fubá”. É que no
local havia o costume de ir à fábrica de farinha “trocar fubá”, que consistia
em levar uma quantia de milho e o dono dava o correspondente em fubá.
Se alguém não cumpria ou trato ou promessa era agraciado com: “Fulano
comeu leite”
E quando alguém queria alguma coisa de quem não estava disposto a ceder,
este respondia: “Aqui você não tira farinha, não!”
Ainda sobre farinha, quando alguem levava uma reprimenda e não reagia,
diziam: “Fulano comeu com farinha seca”
Para pessoas que andavam vestidas com roupas rasgadas ou sujas dizia-se
que estava “uma gafeira” ou “parece um marancuã” ou ainda que estava “uma
injúria”. Gafeira é a sarna do cão e talvez a analogia com alguem
vestido com roupas rasgadas se dê pelo aspecto .
Sobre alguém que vivia cometendo insanidades, dizia-se que era um
“jaguaraiva”. Esta palavra vem do tupi e significa cachorro mau.
Se alguém tinha que sair de algum lugar para ir ao trabalho, dizia:
“Preciso pegar no guatambu”. Guatambu era um arbusto do qual se faziam
cabos de enxadas, por isso, a referencia, significando que precisava ir para a
roça.
Quando alguém chegava apressado a algum lugar, dizia-se que “veio
arrebentando assa-peixe no peito”. Assa-peixe (cambará-guaçu) é um arbusto
muito comum na região.
Se alguém deixava a cidade em busca de oportunidade e depois de algum
tempo voltava, o pessoal comentava: “ O que será que ele foi cheirar
em......?”. Nunca consegui entender a origem dessa expressão.
Para um veículo ou equipamento velho e necessitando de consertos
dizia-se que estava “todo esgalepado”. Talvez seja um termo de origem italiana
mas não consegui comprovar.
Outras expressões: “levar uma chasqueada” = levar uma reprimenda;
“montar num porco” = perceber que disse algo inconveniente; “estar com uma gata
nas costas” = estar com preguiça;
Também usavam-se palavras de origem tupi, africana, italiana, espanhola
ou desconhecida, pelo menos para mim: jirau=armação; picharepe (ou
pixarepe)=moleque; inguirim= espiga ou fruta ainda não desenvolvida;
tiguera=planta, geralmente milho, que nasce depois de efetuada a colheita;
guampudo=metido a esperto; virote=casa ou quarto desarrumado
Aqui expus apenas parte do rico vocabulário local, pois havia também as
palavras e expressões que os descendentes de italianos, espanhóis e portugueses
que moravam por ali assimilaram e adaptaram. Embora algumas pareçam estranhas,
todas tem um fundamento lingüístico explicável, mas isso deixo para os
especialistas.
Onde vc nasceu?
ResponderExcluirEspírito Santo do Pinhal, SP
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